Sondas que escavam corpos, falos que semeiam morte, simbióticos unidos pela dor e gozo: A obra de H. R. Giger (nasc. 1940) explode as fronteiras entre o corpo e a máquina, instaurando um cenário pós-apocalíptico em preto, branco e alguns poucos tons de cinza.
Seus filhos perversos não possuem contornos definidos. Seus limites expandem-se como rizomas, poluindo o óleo com sangue e o sêmen com pólvora. Os buracos do corpo e da máquina são abertos, penetrados e definidos como lugares privilegiados da junção entre o rijo metal e a tenra carne.
A dupla penetração gera seres também duplos, como se o períneo, espaço liminar entre as sondas fertilizadoras e os canais fertilizados, fosse incapaz de garantir a distinção entre os gozos que competem pelo mesmo ventre. Os siameses são os signos dessa confusão genética: Suas carnes misturadas lembram sua origem poluída, a um tempo anal e genital.
Horror maior, essas anatomias ambíguas permitem a auto-fertilização. O ser que devassa e reproduz a si mesmo, gerando uma descendência sem o concurso de outrem, é a própria negação do estado de sociedade, das trocas matrimoniais, do jogo gregário. Condenado ao estado de natureza, sua vida só pode ser breve e sua morte, brutal. Mas violência e brevidade não excluem o gozo, antes parecem torná-lo ainda mais potente, porque definitivo.
H. R. Giger levou ao limite a técnica da aerografia, mas também se aventurou pelo cinema, escultura e arquitetura. Os problemas colocados pelo seu fazer artístico permanecem atuais e carentes de solução: O que fazer com o corpo, com a máquina, com o sexo? O que esperar da conjunção homem-máquina, que nos bate à porta nesses tempos de clones, transplantes e ciborgues? O que fazer com um ser híbrido? Qual o impacto desses híbridos sobre a própria noção de humanidade? Essas são questões abissais e, na beira de abismos, sentimos apenas vertigem.
Texto: RICHARD YBARS da Obvious
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