quinta-feira, 18 de julho de 2013

Bauhaus: the Dark Side of the Goth Dub



Prezados leitores: sabem o momento exato em que o reggae deixa de ser reggae , abandonando voz, melodia, sopros e outros instrumentos melódicos para concentrar-se tão somente na hipnose gerada pela sagrada aliança baixo/bateria, multiplicada ad infinitumem progressão geométrica por sucessivos e cumulativos efeitos de eco, que ricocheteiam uns contra os outros em tonitruante crush collision , reverberam sobre si mesmos e voltam a reproduzir-se indefinidamente em crescente atmosfera de desorientação sônica, gerando novas galàxias turbilhonantes de hipnose rítmica? Trata-se, senhoras e senhores, do dub,um conjunto de técnicas de produção desenvolvidas pelos jamaicanos Lee Scratch Perry e King Tubby a partir de meados da década de 70,  e que desde então  exerceram grande influência sobre o que há de mais ousado na música contemporânea. 





Pois bem: e o que isso teria a ver com o Bauhaus, célebre formação britânica atuante entre 1978 – 1983 (para não lembrarmos aqui – misericordiosamente, aliás – as tentativas de revival ocorridas em 1998 e 2008)? Muito mais do que a princípio se poderia pensar.  Pois se é verdade que o Bauhaus foi a banda mais emblemática do chamado goth rock, com seu arsenal de guitarras dissonantes, vozes espectrais, baixo saturado e percussões tribais, Peter Murphy e seus asseclas (Daniel Ash / David J. / Kevin Haskins) criaram uma espécie de trajetória paralela, um teatro de sombras onde os pesadelos expressionistas e inflexões bowieanas de suas composições mais notórias se entrelaçam às pajelanças dub

Na verdade, o interesse do Bauhaus pelas fantasmagorias de Lee Perry & Cia. vem desde o começo:  já em seu single de estréia, “Bela Lugosi's Dead” (1979), que se tornaria a 'canção-assinatura' de todo o goth rock britânico,  é evidente o entrechoque entre hipnoses percussivas avant funk, sinistras radiações ambient e alucinações dub. Tais elementos eram compartilhados com outros grupos do cenário britânico de então (Pop Group, Cabaret Voltaire, Foetus, Clock DVA, T.A.G.C., etc.), mas a abordagem de nossos amigos é decididamente singular:  emanações sulfurosas de tribos africanas em mutação teutônica tocando covers de Can numa missa negra schizo jazz; tambores e sopros espectrais terçando vozes com found sounds alienígenas na floresta cibernética do apocalipse ambiental; África e Europa em transe eletromagnético, intercambiando idiomas secretos em multiformes rituais de hermetismo sônico. É mormente digna de nota a alternância entre dois paradigmas estilísticos: ritmos turbulentos e compassos fragmentários, de um lado; paisagens sonoras ominosas, atmosferas surreais e tramas circulares de ruídos aleatórios, de outro, ambos traduzindo à perfeição o cariz mais 'esotérico' e soturno do Bauhaus.





Assim sendo, em peças como "Terror Couple Kill Colonel", "Satori", "Earwax", "Poison Pen", “Departure”, “Party of the First Part”,  "In Fear of Dub", “Harry”, “1-2-3-4”, “Dave and Danny's Waspie Dub #2”, “Paranoia, Paranoia”, “Here's the Dub” e outras mais, originalmente espalhadas entre compactos e ep's da banda (e hoje compiladas em coletâneas ou encaixadas como bonus tracks nas reedições dos discos de carreira), o ouvinte é presenteado com um exercício  de desconstrução sistemática e meticulosa dos fundamentos basilares do rock e do reggae via eletrônica minimal, terremotos percussivos e uma delirante orgia de found sounds / samples oriundos das mais diversas procedências. É o goth rock de fatura punk desdobrando-se em sabbath transpsicodélico de atmosferas obnubiladas através de nuvens eletrônicas de sinsemilla sônica... 

Fiquem agora, prezados leitores, com alguns exemplos dessa peculiaríssima alquimia sonora:  












                                                   


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Alfredo RR de Sousa

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