Meus caríssimos confrades, em verdade vos digo, em bom, curto, castiço e
escorreito português: FODEU...
... pois o que de todo parecia inconcebível enfim parece ter ocorrido: os
limites extremos do que poderia ser feito em termos de rock’n’roll[ foram
alcançados. É isto mesmo, senhoras e senhores: a derradeira fronteira foi
transposta, rompeu-se a barragem do som, a obliteração sônica de todos os
sentidos via implacável devastação übber rockist foi levada a efeito. O grande culpado? Blame it on Makoto Kawabata, Grã-Ronin do
estraçalhamento psíquico de garagem, Shaman Warrior King dos báratros do
pesadelo psicodélico e Custódio Transfinito dos Arcanos Sônicos do Apocalipse.
São duas faixas: a primeira, Trigger In Trigger Out (com 'somente'
20 minutos) é um maelstron de microfonia inclemente e brutalismo
percussivo ao estilo das rajadas eletromagnéticos presentes em Electric
Heavyland, ou seja, o terrorismo sonoro de rigueur que já
caracterizava a faceta mais turbulenta da encarnação anterior do AMT; é
portanto na segunda faixa, minhas senhoras e meus senhores, que o caldo entorna
de vez...: com singelos 44 minutos de duração, They're Coming from the
Cosmic Inferno desafia qualquer descrição ou análise; como já salientei,
Kawabata e sua gang de propagadores de ruído patafísico abandonam as
últimas paragens conhecidas do rock para precipitar-se numa ignota e
ominosa nebulosa de caos, um massacre ultra/mega/hiper/meta/trans-psicodélico,
descomunal, ciclópico e rigorosamente insano, sem um segundo sequer de pausa;
não há, pois, aqueles interlúdios 'táticos' para que a peça volte à carga com
mais intensidade depois, mas sim a banda trovejando ininterruptamente em 'full power flat out noise terror atack' mode ON. Confesso que por volta
dos 25, 26 minutos a ‘coisa’ já havia me derrotado, deixando-me de todo
prostrado, inerte e entorpecido, incapaz de esboçar qualquer reação, e assim
submergindo em definitivo num oceano magmático de white noise oriundo do
próprio Inferno. Trata-se, confrades, de ultraviolência sônico/sadomasoquista
em aterrorizantes espasmos de crueldade e, em conseqüência e última instância,
nazifascista... é, quiçá esta seja
exatamente a metáfora mais adequada: caso Heinrich Himmler, Reinhard Heydrich,
Karl Maria Wiligut e Julius Evola fossem fanáticos por rock’n’roll e
viciados em heroína, Just Another Band From The Cosmic Inferno decerto seria
o álbum que registrariam ao cabo de uma delirante jornada embalada por
toneladas de brow sugar e sanguinolentos rituais neopaganistas.
Se gostei? Hmmm... creio que esta questão poderia ser melhor respondida
no âmbito da noção kantiana de ‘sublime’, isto é, fenômenos incomensuráveis à
escala humana, que nos fascinam e horrorizam em grau máximo ao mesmo tempo; ou
então, como diria o crítico musical Dominique Leone, a propósito, aliás, de
outro petardo do grupo de Kawabata, e porventura de forma mais sintética e eficaz: ”how much is too
much?”
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Alfredo RR de Sousa
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