sexta-feira, 2 de agosto de 2013

BANZAI!!! - II




Meus caríssimos confrades, em verdade vos digo, em bom, curto, castiço e escorreito português: FODEU...

... pois o que de todo parecia inconcebível enfim parece ter ocorrido: os limites extremos do que poderia ser feito em termos de rock’n’roll[ foram alcançados. É isto mesmo, senhoras e senhores: a derradeira fronteira foi transposta, rompeu-se a barragem do som, a obliteração sônica de todos os sentidos via  implacável devastação übber rockist foi levada a efeito. O grande culpado? Blame it on Makoto Kawabata,  Grã-Ronin do estraçalhamento psíquico de garagem, Shaman Warrior King dos báratros do pesadelo psicodélico e Custódio Transfinito dos Arcanos Sônicos do Apocalipse.


 Por ocasião do décimo aniversário de sua cria mais dileta, a anárquica comuna místico-musical Acid Mothers Temple & The Melting Paraíso U.F.O., Kawabata parecia um tanto quanto entediado com o facto de seu assombroso terremoto estético de estimação ter de certa forma assumido um contorno mais high profile (AMT high profile?!?!? Bem, talvez para [i]junkies[/i] terminais vagando pelos labirintos cibernéticos do Império do Sol Nascente, ou então para congêneres escandinavos hibernando n’alguma caverna gelada sob a sombra cônica do Sneffels...); assim sendo, decidiu bagunçar um pouco o coreto, arregimentando figuras egressas de formações como Boredoms, Ghost, Mainliner e Zeni Geva para formar o Acid Mothers Temple & The Cosmic Inferno. E o resultado é Just Another Band From The Cosmic Inferno (2005).

São duas faixas: a primeira, Trigger In Trigger Out (com 'somente' 20 minutos) é um maelstron de microfonia inclemente e brutalismo percussivo ao estilo das rajadas eletromagnéticos presentes em Electric Heavyland, ou seja, o terrorismo sonoro de rigueur que já caracterizava a faceta mais turbulenta da encarnação anterior do AMT; é portanto na segunda faixa, minhas senhoras e meus senhores, que o caldo entorna de vez...: com singelos 44 minutos de duração, They're Coming from the Cosmic Inferno desafia qualquer descrição ou análise; como já salientei, Kawabata e sua gang de propagadores de ruído patafísico abandonam as últimas paragens conhecidas do rock para precipitar-se numa ignota e ominosa nebulosa de caos, um massacre ultra/mega/hiper/meta/trans-psicodélico, descomunal, ciclópico e rigorosamente insano, sem um segundo sequer de pausa; não há, pois, aqueles interlúdios 'táticos' para que a peça volte à carga com mais intensidade depois, mas sim a banda trovejando ininterruptamente em 'full power flat out noise terror atack' mode ON. Confesso que por volta dos 25, 26 minutos a ‘coisa’ já havia me derrotado, deixando-me de todo prostrado, inerte e entorpecido, incapaz de esboçar qualquer reação, e assim submergindo em definitivo num oceano magmático de white noise oriundo do próprio Inferno. Trata-se, confrades, de ultraviolência sônico/sadomasoquista em aterrorizantes espasmos de crueldade e, em conseqüência e última instância, nazifascista...  é, quiçá esta seja exatamente a metáfora mais adequada: caso Heinrich Himmler, Reinhard Heydrich, Karl Maria Wiligut e Julius Evola fossem fanáticos por rock’n’roll e viciados em heroína, Just Another Band From The Cosmic Inferno decerto seria o álbum que registrariam ao cabo de uma delirante jornada embalada por toneladas de brow sugar e sanguinolentos rituais neopaganistas.


Se gostei? Hmmm... creio que esta questão poderia ser melhor respondida no âmbito da noção kantiana de ‘sublime’, isto é, fenômenos incomensuráveis à escala humana, que nos fascinam e horrorizam em grau máximo ao mesmo tempo; ou então, como diria o crítico musical Dominique Leone, a propósito, aliás, de outro petardo do grupo de Kawabata, e porventura de forma  mais sintética e eficaz: ”how much is too much?”


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Alfredo RR de Sousa 

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