sexta-feira, 12 de julho de 2013

Considerações sobre o Black Metal Frances

"CANTEI SOBRE O CAOS E A NOITE ETERNA,
ENSINADO PELA MUSA DIVINA A ME AVENTURAR
NO DECLÍNIO SOMBRIO, E SUBIR PARA 
REASCENDER"

JOHN MILTON / PARAÍSO PERDIDO






Em seu celebre poema épico, o autor inglês John Milton nos trás a queda de Lucifer do paraíso e sua arquitetura do inferno o qual ele usaria para se tornar o príncipe eterno de toda a desolação. Em uma de suas mais celebres passagens, a postada acima, Lucifer ao cair no inferno diz que pelo menos ali seria livre e não um escravo do seu criador primordial e assim declama tais versos e com suas asas gigantescas parte ensandecido em busca da sua vingança contra a humanidade, motivo de toda a divergência celestial. Basicamente esse é o sentimento que permeia toda a essência do avantão BM francês a qual Milton já havia colocado em sua poderosa poesia e que no amanhecer do fim dos tempos que se revelou a era moderna se tornou como muitos outros conhecimentos o combustível para perpetuar o massacre, em especial o massacre francês. Para quem conhece a fundo o ethos da cultura deste pais, não é algo de se espantar tanto, desde o inicio do século XXI a Europa Ocidental vem atravessando uma crise que só faz agravar e fragilizar sua situação no cenário mundial, suas bases espirituais foram totalmente perdidas e o pouco que resta esta sendo dizimado por elementos estranhos a civilização europeia.

Blvt Avs Nord
O declínio conduz ao desespero, que é o cenário perfeito para que a semente do ódio que é a base de tudo no Black Metal possa florescer como se deve. A razão de ter surgido na França e não em outro lugar é que eles souberam captar esse desespero e estão canalizando isso com o darkside da própria tradição da sua nação. Recordem-se sempre que não existe pais da Europa ocidental com maior vastidão hermética que eles, é oriundo de lá o satanismo de Baudelarie e a marginalidade boemia do Simbolismo como um todo, o decadentismo, o anarquismo de Proudhon e Tailhade, o Teatro da Crueldade de Antonin Artaud, isso sem contar a vasta tradição do pais em alquimia. O próprio Cristianismo francês é cravejado de sombras por todos os lados pois o Palais de Papes construído a mando do Rei da França para sequestrar o papado mais corrupto da história para beneficio próprio ainda esta lá, imponente para quem quiser ver na sinistríssima cidade de Avignon. Friso também que foi lá que múltiplas heresias fervilharam durante toda a idade média, sendo o exemplo mais latente, os Cataros. É óbvio que mais dia menos dia isso iria vir a tona e que quando viesse não iria vir para brincar. Finalmente veio, e implodiu no underground musical da França num momento de intensa crise que castiga a Europa e assim aos poucos a França um pais até então ignorado se tornou o grande bastião da moralidade do Black Metal.

Deathspell Omega
Na época corrente podemos facilmente dizer que as bandas da cena não só evoluíram a proposta original como a ampliaram e em ultima instancia tornaram totalmente obsoleto, mera poeira no vento tudo que precedeu a revolução perpetuada pelo French Black Metal. Tudo que falta no estilo original, sobra na maioria das bandas desse pais: Onde havia rawzeira deliberadamente tosca, existe agora uma execução impecável, músicos de primeiro time se prestando  a tornar um estilo realmente aterrador, onde havia barulho, agora existe peso, real peso, distorções, reviravoltas, verdadeiros ciclones de caos na aurora de tempos infernais, um testemunho ocular da degradação de nossos tempos e por fim, onde só havia blasfêmia tola, finalmente deram um tratamento a nivel teológico e metafisico a tópicos já surrados e mutilados de todas as formas possíveis tais como o Satanismo e o Hermetismo, que também passou por uma verdadeira reciclagem espiritual nas mãos das bandas francesas.

Aluk Todolo
Assim sendo, esse novo Black Metal conseguiu algo que até então eu achava impossível vendo o cirquinho que o estilo havia se tornado: Apesar de ser claramente um fruto do ódio e do niilismo da modernidade movido por sede de vingança e ódio imensurável, tal como o messias Lúcifer de Milton o Black Metal Frances tem demonstrado ainda que não totalmente consciente dos seus próprios atos ter a coragem necessária para pegar no martelo e como um juiz severo condenar a morte a o mundo moderno e suas maledicências. Talvez por essa razão um tradicionalista com acentuado traço cristão como eu possa tranquilamente sentar aqui hoje e resenhar algumas das bandas mais malditas do universo tais como Blut Aud Nord, Deathspell Omega e Aluk Todolo sem nada a temer. Uma vez que elas condenam a mediocridade moderna e eu também, estamos razoavelmente próximos. Por fim, basta me recordar do tom cristão esotérico da obra de Milton para descrever Satan e seu périplo sobre a Terra para entender que tais contrastes sinalizam um cenário teológico muito mais vasto e complexo que os velhos antagonismos entre Deus e o Diabo. Dito isso, podemos ir as bandas...


POR: Gabriel Von Kreisler.

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