Pais de Origem:
Grécia/USA
Subgênero: Experimental
/ Avant Gard
Período de Atividade:
1982 / Atualmente
O olimpo da danação
eterna e da melancolia irresgatável na história da música para mim estão
plenamente encarnados em duas mulheres: Diamanda Galas e Nico. Uma pelo seu explicito
malditismo poético, a outra por um senso de sofrimento tão sadomasoquista que
acaba por torna-la um ser diabólico. Por hora vou me focar na Diamanda
Galas, simplesmente porque estou com mais material a
mão, porem num futuro não muito distante, teremos a Nico por protagonizando um artigo por aqui.
Poeta maldita, louca,
bruxa, pervertida e uma inventiva compositora, dona de uma voz com
alcance talvez apenas comparável a sua erudição literária, além de produtora,
pianista, arranjadora e escritora e pintora isto é Diamanda Galas. Porem que é
isso além de uma glacial e vaga definição técnica? Passemos a essência das
ideias que são muito mais interessantes: Certa vez li num livro que aprecio
muito “O Inquisidor” de um escritor italiano de nome Valério Evangelist uma
passagem sobre o verídico Inquisidor Nicolas de Aymerich e o seu encontro numa
floresta com uma jovem bruxa totalmente nua enquanto era sodomizada por um
Incubo diabólico e sobre o fato o inquisidor relata que “eram tão altos e
agudos os gritos da possuída, que seu clamor blasfemo podia facilmente
ensurdecer todos a sua volta.”. Pois bem, séculos separam o Inquisidor Aymerich
de Diamanda Galas, mas digo que se por algum sortilégio do destino pudesse ser colocado
diante dela cantando ele apontaria para a mesma tomado de ira santa e diria: É ELA, É ELA!
E de fato é ela, a
própria bruxa na floresta emitindo uivos infernais. Definir ela assim vale mais
do que qualquer paragrafo louvando seus tecnicismos vocais ou sua já
incontestável qualidade como musicista e arranjadora. Sua obra é um verdadeiro
Grimoire versando sobre a dor, o desespero, a injustiça, a condenação, a culpa,
a impotência, a incapacidade mental, a alienação, a indiferença esses
sentimentos que ela parece conhecer tão bem e tão enraizados na alma humana que
ela não pensa meia vez em nos condenar a morte com a sua música e talvez
condenar a si mesma com sua blasfêmia, para que nós de frente com horror e o
macabro expurguemos todos os nossos pecados! Assim sendo, ela não se torna
apenas uma fodida experiência musical e artística se torna também uma
experiência metafísica, uma verdadeira Teologia do Desespero. Nascida em San Diego,
California, de pais gregos, a jovem Diamanda teve desde cedo uma rigorosa
formação artística. Estudou desde muito cedo jazz, blues, musica erudita e
canto lírico. A literatura gótica e toda a carga de maldição poética dos
simbolistas franceses vieram para dar o toque final na personalidade de uma
mulher esquisita em sua própria natureza. Talvez seja a ascendência grega, dona
de traços fortes, rudes e cruéis, creio que o paganismo que era praticado na
Grécia Antiga se adapta muito bem as ideias dessa sacerdotisa do ódio perdida
no descaracterizado mundo moderno. Em 1979 sua performance operística no
Festival de Avignon na França, lhe dava ingresso no mundo musical do qual ela
não sairia depois disso.
Da sua discografia
gostaria de citar os sensacionais álbuns da trilogia “The Mask
of Red Death”. Esses três álbuns gravados entre 1986 e 1988 são o ápice da sua
maturidade tanto musical quanto intelectual. A epidemia de AIDS que assolou o
mundo nos anos 80 foi vista por muitos com pânico e horror, e Diamanda sofreu isso quase que na própria pele pois seu irmão era um ator de teatro chamado
Philip-Dimitri Galás contraiu a doença. Os três álbuns são na verdade uma soberba alegoria para contextualizar de modo místico a epidemia e as analogias
que ela fez a celebres epidemias do passado como a lepra e a peste negra são
fantásticas somadas a sempiterna literatura maldita que esta presente de cara
no próprio titulo da trilogia visto que “A Mascara da Morte Escarlate” vem de
Edgar Allan Poe, um conto no qual o escritor versa sobre uma grande praga que
afetou o condado de um príncipe. Sobraram também ao longo dos trabalhos
citações a autores como Gerard de Nerval, Tristan Corbiere, e a sua
impressionante leitura de um dos capítulos mais atrozes do Levitico hebraico
que compõe parte do Antigo Testamento da Biblia o qual versa especialmente
sobre o processo que um sacerdote deve tomar ao diagnosticar a praga de lepra
em um doente. Em 1986, seu irmão morre devido à doença e Diamanda cria uma
espécie de pensamento fatalista sobre o mundo: Estamos todos condenados! Tudo
isto torna “The Divine Punishment”, “Saint of the Pit” ambos de 1986 e “You
Must Be Certain of the Devil” (1988) álbuns tensos, sórdidos e difíceis de
entender, mas ao mesmo tempo são uma das mais impressionantes aulas de música
experimental e técnica vocal que qualquer um já viu na vida e por isso mesmo,
indispensáveis.
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